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A Rosa Branca E Vermelha E O Pássaro Na Lua, textos de Alberto Moreira Ferreira

                          CORAÇÃO D'OURO INDIE


Como eu nas nuvens protegendo 
A, desejando-a, toda, com a sua
Inconfundível complexidade sem 
Exigências por não a querer só 
Por querer e querer, o sol, a lua 
Preencher os dias e dar sentido 
À primavera verão outono inverno 
E ser inteiro, estão gatos selvagens
Medindo as flores do jardim
Tal como porcos pelos quais
Sinto uma profunda tristeza
Pelo futuro sofrimento a que
Todo o fraco forte para quem 
O querer é poder se submete
Eu nunca quis ser coveiro sabes
Nem armador que, a existência 
É ríspida e o tempo implacável 
E eu, não gosto de me cortar
Vejo as folhas caídas desvividas
No chão em decomposição sem 
Afeto, cuidado, respeito amor e
Tudo é 
Pena
Depois, no ponto mais alto 
Do desejo seduz-me 
Agrada-me a ideia de voar 


A minha vida amanhece com as tardes
Quando tudo aponta como com noites
Quando já é tarde e o cansaço origina
O estretor. Falas de arrependimento e
Dizes que não sabias o que era o amor
Há em mim um mar, que, transborda 
Pelas janelas que abrem e fecham, eu
Aqueço com o frio, e, seria a tua mão 
Que me traria a saudade se a tua mão 
Ausente pudesse ter limpado os meus
Rasos de água quando tu eras a estrela
Como hoje ferida e eu nada. Se queres 
Pagar paga alimenta-te da roupa a lavar
E esquece o poema que tentou povoar
A praia e hoje não sabe o que é saudade
Como também não sabe e quer e espera
Ainda vir a saber, não o que é a saudade
,Eu também não sei 
,Se por inoperância inocência maldade
,Mas amor
,O que é amor





Ao que parece vou partir em breve
Não vou preparar-me, não vou comprar
Aloe Vera, não vou trocar de amor
Não vou rezar aos pés, vou erguer
O copo, odeio este fragmento do Alberto 
A vida é o que é 
E não vou dar nada como acabado




O amor no seu ato prehensione
Como se fosse ele betelgeuse 
Impõe-se como os cinzentos roedores
Deita fogo de palha na lareira
Intencionalmente a multiplicar a erva
Esporadicamente cobre-lhe as costas
Deixa crescer a barba sedento
E como o escorpião morto 
Injeta-lhe na veia o veneno 
Agora a lua decepcionada já não vê 
A casa limpa, nem a sujidade do morcego
Aterroriza-a o aproveitamento mas
Compara os dentes do porco formigueiro 
À substância dos sinos de vento
E crê que a vida está longe
Muito longe da forma 




Sob vidro, onde o hangar caça
Vê-se entre as nuvens provido
Da sensibilidade do intratável 
Quer compreender esse escape
Essa fuga produtora de: ficar azuis
A igreja dos amantes da morte
O espectro das chamas do inferno 
A evasão do que me põe em perigo 
Aqui a minha chuva, o plasma
Não tem armas nem máquinas 
Não é o tênsil bastão de fazer 
Um dois três; mais fantasmas
 



Sorrir sorrio quando;
A tristeza é de uma vastidão
Que me leva imóvel pelo ar
Como se mais nada restasse
Como se a cadela desaparecesse
Como se não houvesse sol à noite
E ainda que persista, a felicidade
É provisória e o ceticismo do riso
O laço, o casamento com a vigília
Ou com a loucura do céu nublado
Com o tempo o desaparecimento
Não tem um medicamento e a dor
Vai-se instalando até que a noite te leva
Definitivamente ou um vento 
Vais soprando. Procuras, não 
Eu, ainda vou navegando
Também já não aspiro
Inspiro e vou encontrando




No murmúrio dos papagaios de pasto a sombra é criada no ir de levada
Dos caules goteja água que bebo sem ingerir pela empatia
Pela árvore, curiosidade, e pela fluência da lâmpada
Eu prefiro a lâmpada ao leite do úbere com papeira
A valsa lenta no céu do perú
O sol não chega às mortas pedras de gelo formadas nas nuvens
Corria com as tripas na mão, faria delas coração
Se uma rosa em águas boas murchasse pela geada 
E que sabem esses lençóis de bocas bares pendurados tais morcegos pregados
À porta da orvalhada
Eu tinha de vestir a borboleta e não é a lamúria dos hellhounds
Que reduz o sol à sombra da oliveira onde se encostam 
Apêndices das cabeças com chifres
À capela na erva
Imprecatórios 
Eu prefiro a luminosidade da andorinha à shnuggle galaxy do rebanho aid 
E não me poupo
Ao mar 




O que era desapareceu quando chegaste
No que sou antes de chegares impera a noite 
Sangro ferro nesses momentos por causa 
Da noite, do dia longe do dia, sempre
Que chegas deixo o crepúsculo, respiro fundo
Ao ver-te desapertar o cabelo
Com o teu sorriso de açúcar 
Fonte de pontes fico-me no céu
Imaginário com pontos de relevo
E é entre os pontos de relevo que o sol se põe 
Beija o fruto insubordinado ao que sou
Antes de chegares, creio que pela noite
Desaparecida, pelo fim coberto pelo início 
Pela brancura da tua pele de que sinto 
Falta quando estou sozinho
Eu gosto muito quando chegas e espero-te 
Sempre, e tu chegas sempre 
Sempre 




À tardinha alguma coisa os barcos escondem
Eu não insisto nos gatos, a passagem não é eterna
Certo dia o lírio de ouro não é mais o pássaro morto 
É mais mãe pai amplitude 
Claro que há pedreiras no infinito onde as luas morrem
E quem olhe frontalmente a pele
Aqui há pó obreiro e, o que resta
De um peixe espinhudo, alguma
Coisa há, e porventura uma harpa na lua mulher




O tempo passou, e tu, vens buscar-me -
Está como um cão engatilhado na lua
Como uma parede de tijolos congelada
Quer ir não quer, não quer quer
Está ainda magoado mas o passado
Já não é tão visível e este presente 
Esvazia o sol o mar a vida inteira
Tu queres levar-me - ele está nas 
Nuvens, não tem vento, está calado
Para não o ouvires para não saberes
Em todo o caso se o levares 
Com os anos que tem ninguém 
Dará pela sua falta e a esta hora
Já ninguém sabe dele, enfim
E eu, cá estou
Ciente da nossa impermanência




Passo depressa o dono da casa enferma agastado por amar outro poema
O pedalar forte da bicicleta no céu firme no chão maleável pela 
Madrugada fora longe da água a que me cinjo sem florir o quarto
No meio dos degraus uma luz maior a chover dessorrindo
Preso em anéis nas nuvens como este dono que desconhecia com
As mãos na água corrente da torneira da casa enferma impregnado de perfume de outra vida de um
Espelho mais vasto como é o sangue de uma rosa branca e vermelha 
A fazer um pássaro na lua




Se cantaste e estimulaste
Sob a pedra de gelo quente
Ninguém quer saber
Se cantaste e entorpeceste
Se entorpeceste e cantaste 
Se cantaste e despertaste
Ninguém quer saber 
Eu não sei; podias até morrer




É um lobo díptero às vezes 
Selvagem - educado _ por
Estrelas solitárias da neve
Não tem lugar entre mansos 
E bravos, por isso pinta
Escreve pelas minhas contas
Acende o amor




A noite toda os ramos da escuridão 
Imagem latente de janelas fechadas acesas
Marcas de um passado que lamentamos
Brancas inexistentes e uma obrigação
Sustentada por uma moral de mãe sabendo
O que significa a escuridão e a sobrevivência
Sei que não sei muito bem quem tu és
Nessa noite que levanta a voz e divide
Não é o barulho a causa da minha confusão 
Mas o que pode um narciso numa hora
E pode
Tu sonhas uma erecta malva branca
E nós sabemos
Que a escuridão trucida




E agora que a esperança foi
Substituída por gatos nos pulmões 
A ausência cobre-lhe os ombros 
A alegria encoberta pelo sol 
Obscurecido, distante como
O morcego na rua dos ratos
Vidente tal falcão de colher no bico
É cedo pela manhã e tarde
Pela tarde, pelo fim do dia
Em breve ninguém se lembra da montanha
Ele crê no seu copo de vinho
Mas sabe que todos os anos desaparecem
Que as estrelas são imóveis e pelo tempo
E vazios em preces imprecatórias não tem
Palha a dizer sobre o esquecido




Eu não vou, diria que eu não ando
A estrada é que é rolante e embora
Não vá para onde os comboios
Me querem levar e siga fora do trilho
O tempo vai caminhando
Percebo que os relógios imóveis
Enroscados caminhem uns sobre
Os outros
Torcidos
Andando
Sabe-se lá para...; não, eu não vou
Eu não ando, defino o caminho e o tempo
É que me vai levando




Num momento a sombra encosta-se
Desinfeliz do gelo, e pouco há além
Da inconfundível voz dos cães sem
Uma porta, e que te, aumenta a dor
Pensas que no bazar vendem somente
Armas porque vens de um lugar onde
A terra é fria e as ovelhas desprovidas
De encanto como deficientes curvadas
À economia vivem só para te cortar os
Voos: claro que tenho medo e nunca perdi um dia de vida por isso, no entanto
Já tão limpo
Lambido e mordido...




Se viesses para cima de mim
E me pusesses o Etna na boca
Derretesses debaixo de mim
E deixasses os cabelos soltos
À minha frente contigo plena comigo
A tocar as tuas curvas antes e depois
De explodir todo no raio da lua mais
Inteligível macia supra-sensual fêmea 
Nuinha de anéis de letais machismos 
Entre excitantes palavras sussurradas
A embalar a minha modesta ilusão
Rosa dos ventos, natureza precisa 
Valor de incontornável 
Beleza completude de
Tanta, tanta infinitude




Se lhe digo vai ela vem. Se lhe digo vem ela vai



Estou vivo. Estou vivo. Não estou assim tão vivo. Estou morto. Não estou morto. Não. Ou não estou assim tão morto. Silêncio. Estou morto como um doente, vivo como um condenado. Estou louco. Não. Sim. Eu quero e estou incomodado por estar vivo e morto e o sangue não irrigar a pedra. Devia lutar. Mas por quê. Para quê. Estou louco. Não. Sim. Tenho perdido hábitos, necessidades. Estou bêbado. Não estou bêbado. Não estou assim tão preciso. Isso. E preciso estar vivo morto louco. Vou fazer uma chamada e dizer-me: Não partas para mais nada. Liga à lua e diz-lhe que a amas sem a ferir. Adoro quando te amas. Eu estou vivo. Estou morto. Estou louco com a polícia municipal apalpar o nariz no hotel 3 horas. Tenho um sol a fugir totalmente consumido pelas chamas e andorinhas no tecto. Falta-me uma costela. Estou vivo. Estou morto. Dá-me vinho. Luz. Vinho. Dá-me vinho. Rosa




Morde-me, dá-me um pêssego 




Terra tu 
Que és o céu e o coração que me sepultará 
Eu sou o quê além duma coisa perdida, sou
O não ser, o que não se perdeu ou o dia da
Morte em que todas as flores florirão, sou
O que chega disto, aquele que o coveiro teme
Aquele que com trabalho se deixou aberto
Terra, estou como alguém à solta que não sabe
Se há flores na terra



Doo parte do meu tempo por vontade própria à literatura, por isso não escrevo para ninguém ler e vivo sem o constrangimento da mulher-a-dias num país grande pequeno, não sou pago e não tenho de suportar a coação do criminoso mercado da desflorestação por tudo e por nada nem pensar na sobrevivência no útero da cama como um penso rápido que se compra usa e vai para o lixo. Entrego-me à reflexão e ao questionável destemido e animado recordando os cantos do vitriólico como primicério por amor, por existir, pela existência de uma rosa, branca, vermelha, e além de me escrever preencher o azul das margens ao coração deixo as estrelas livres, que é o que mais me apraz, deixar o ar, tal como um pássaro, livre para voar.



A água é como o fogo
E não há ato de teatralidade 
Que salve dos brincos
My twin e a tragédia 
Não é um exagero, mas um
Fruto do pêssego que tinha
Horas para os passos 
Da mobília e meias horas
Para o amor que nunca ouviu 



Por sinal quando era feio era bonito,
Diziam as flores mortas na cama
Obcecadas por qualquer coisa que
Imaginavam que não a violeta
De cheiro doce desprovida de encanto
Que agora tem medo



É natural que corra para o fumo
E traga este que está só para casa
As igrejas fazem tristezas todo o ano
É verdade que bebo como a neve
Nenhum braço de porco desamarra
As montanhas queimando
E o tempo não leva o tempo
Por assim dizer. Quando havia noite
e divindades
O que valia era não ficar quieto
Investia sobre as nuvens o vazio da terra os cães
Como hoje a solidão sobre mim
E a vida que se mostra à minha frente
Como joio no ar



Ainda estás na lua passarinho! Não se expele uma pedreira sem que todas as pedras nos beijem. Uma a uma todas me beijaram. Fui ficando como o terrívomo e estou já como o lebracho, mais leve.



Todos os dias morre-me um pedaço e todos os dias um pedaço nasce-me. A folha sublinha a resiliência como um bravo e o livro o que se morre ao nascer, como se o afastamento confortasse o abrigo e a ausência do que foi apontasse o caminho para mais um dia em andamento, como este: morro-me e vai nascendo. A árvore coberta de heras, e este outro, sou eu. 




O natural viço é quente, claro
Que, o lugar da pólis é quente
Não vive pelo triunfo, não está 
Nas mãos azuis e estas sim são 
O frio instrumento distinguido 
Com a mais longa e inabitável 
Vida
A claridade não é a ladra é o
Obstáculo produtivo de mãos brancas
E o frio das mãos na mão azul a edificar
O grande cemitério, o mais defendido
Tanto quanto nenhum outro
Mau 
Professor




O que é que te incomoda
O pequeno grande sofredor
O pequeno, teimoso lírio
No jardim cheio, grande amor
E já agora sejamos claros
Que os botões não ouvem
Perto do fim segundo o sentido
Do sol rebelde tentando
Despertar o adormecido
A força do temerário corajoso
Paralisado na cadeira arder  
O pedaços de tudo resquícios
De vidas, o luz a sombra 
Este pequeno grande
Grande pequeno achado perdido amor




Eu não envio flores ao meu velório
Nunca fui uma pesqueira, nem sei
Escrever poemas, e sequer pensei
Que um dia sangue me escorresse
Do nariz. Estou em paz, afastei os olhos
De cristo e as cores não são fábulas
E de nada me adianta cortar o cego
Não sou o que vive do cultivo e não cultivo
Sepulturas e por que eu escrevo - escrever
Faz-me ver. Se eu quisesse 
           Morria



O mundo desapareceu, os campos da minha infância deram lugar a retângulos cheios de neve, as ruas que conheci mais ou menos desaguaram no fim, queria agradecer às portas onde bati e essas o tempo levou, já não há poemas para me fazer com o céu claro e eu sinto a dor da lua sentada no mesmo caminho prateado onde o mundo desapareceu.



Estou como o que prova a secura, depois de nove mil anos sozinho não quero que te aproximes para não morreres. 



Escrevo porque não tenho assunto, porque sou um livro perdido entre coisas desilusões e sonhos longínquos, entre o astroso e o afortunado, canta-me a noite pelo desamparo pelo luto pela morte, e pelo amor, essa casa que todos conhecem, tal como a guerra, cujas casas nunca tive mais de meia chave. Também escrevo contra o álcool da solidão e o eterno da brancura não interessa nada.




A arte é um monstro destemido
E não o rio com os cornos no charco
E impressiona não por te querer
Prender à sua mão mas porque a vida
É o que é e o morto entre falhas
De ferro macio de rios de amanda
Escrava de naamã tem um sonho
            Mais doce




Põe o verde sobre o vermelho
Esquece o topázio à frente pelos teus azuis
E vem, sê o contorno de berço da minha terra
Vem, vem sentar-te à mesa vem
Adoçar a minha curva
Negar-me a noite, branquíssima 
E deixa-me 
Morra eu quantas vezes morrer hei-de amar-te
Sim, amar-te muito, ser
Braços de lã nos teus azuis
Sopro de vinho quando as nuvens se põem nas laranjas 
Anda minha chuva amarela, bonita 
Rosa dourada, anda meu amor que
Já é meio dia e eu encho-me
Da sala vazia de mim




A alegria do sol nasce do sorriso da lua, quente pelo toque do sol. E este retorno é digamos, o princípio da vida.




Sol perdível a ir-se embora dele,
Meio sol meio absurdo exagerado e apaixonado, não inteiramente,
Que, o desconforto do corpo e a inultrapassável vertigem da
Belladonna of sadness - A solidão
Faz perder. Ainda assim encantado
Por um... Ai... Rosa muito bela e delicada
Porque me habita a falta o dia
D - O amor




Havia sido apedrejado por metais
Bombeiros levaram-no ao hospital
E naquele azul quartel da polícia
Amarelo entoava sirenes pendurado
No expositor da bicicleta rumo à luz
Desfiava ramos de algodão por gosto
De livros de todo acidentado porque
Livros não tinha mas tinha
Pasta de dentes sensodyne
Tinha barcos que guardava
E dispensava fins para não chover



Se vieres à noitinha o que é pouco provável e possível saberás que já cá não estou, estive sempre perto e esperei a vida toda.



Pensei: odeiam-me por não ser cão e depois pensei que não se gosta de cães por se gostar de seres vivos mas porque são facilmente manipuláveis aos quais se pode impor. Espontaneamente pensei que pudesse ser o grande gato, o rei da floresta e eu não tenho as pretenções do grande felino, depois pensei nos artistas da floresta da opressão e nas cópias que recomendam a quem não tem chão e eu já não tenho idade para isso. Odeiam-me por não me ouvirem dizer e fazer o que gostariam. O momento é de emancipação e reflexão. Já fui ourives agora faz-me falta a filigrana do amor e a parte dura e sólida da armação do corpo não. Eu não sou quem querem, eu tenho o direito de ser quem eu quiser. E eu não gosto de arroz, doce.



Não ser contra não significa ser a favor. Todas as cores têm razão de existir mesmo as que ainda desconhecemos. Não conheço verdades totais e conheço mentiras a mais. E mentiria se dissesse que não fico aborrecido com uma parte da solidão, não com e por causa da idade, mas com uma parte da solidão que esta pode ditar, e é normal isto acontecer porque ensinamos a sociedade com os nossos preconceitos e vieses tendenciosos. O amarelo não é amarelo o azul não é azul o vermelho não é vermelho e mesmo o verde, tem nuvens. Quem se sentaria na minha mesa com o velhinho sem imorais pedras no sapato à conversa sem lições de moral, o vendedor e talvez, o sonho. Logicamente que nesta idade uma parte da solidão causa-me enfado, e depois, espero o pior e tenho esperança ainda. Não fui eu que perdi o sonho, o sonho é que me perdeu.




Às vezes chove tanto
A chuva não é chuva
E os passarinhos nos ninhos
Sem tetos nem impermeáveis
Neste sensível momento
Ouço música quebrável
Que fazem em silêncio e me faz
Desaparecer escuro



Nesta terra de belas e questionáveis paisagens é extraordinário o que se faz além de falar brasileiro beber bebidas isotónicas ginger beer e outras coisas russas e americanas em redes falaciosas horríveis vulgares com a ideia da roda alimentar gigante, e as crianças depois de alimentadas mantêm viva a grande roda animada como papoilas com amores perfeitos tatuados e chapéus nas mãos. É apavorante pensar que somos todos seres claros e escuros e depois de envelhecermos solidão.




O que se cala é o que empreende
Nas barbas da ponte branca onde
A sombra e o coração frio pelas beiras
Com bolos de chuvas de escuridão
Amarrada negando faz submergir
A noite, sempre os mesmos peixes
Serpentes de braços sumidos
De fogueiras sem brasa, ceifeiras
Onde o trilho pregado na cruz do centeio
Em que céus tementes de ventos e mares
Viram outro lugar
Depois sobram relógios às ondas
E nem o excremento do elefante
Bem, a fotografia
E mais um morto para a posterioridade



É difícil andar numa terra de cães de cerâmica verdes e se não posso elevar o pássaro além da minhoca incluída numa toca mais vale morrer. Não direi morrer, mas morrer



Vive-se demasiado depressa e submissos ao espelho. Olhos postos no vazio. E demasiado virados para nós o conteúdo não interessa. A capa faz o produto, o conteúdo jamais será valorizado e tu; tu és um livro, um pássaro um livro



O sentido de comunidade só significa medo, o racismo resulta desta emoção tediosa nem sempre originada pela consciência mas pela velha sabedoria dos ratos no teatro imposta aos nascituros. Idealmente devíamos ser pássaros e desenvolver voos mais robustos, como laços à margem da lei pipeline. Devíamos sonhar acordar e não pensar: se não tiver para dar de comer quem me amará.



Ter um objetivo e viver para ele pode ser uma saída para; até que um dia por via do tempo esse objetivo seja esbatido pelo próprio tempo. Viver para viver. Pelo prazer de ouvir o canto dos pássaros, não estou a pensar, no caso, no grasnido da gaivota esfomeada, mas nos cantos dos passarinhos, do melro, da pega do gaio, e embora vibrante o gralhar destes não seja comparável à sinfonia celeste do rouxinol é incrível. Viver para viver. Será quiçá para quem anda com a mão e o credo na boca num mundo onde procuram uma orientação para não se perderem ou alimentarem-se ou dar sentido a algo que será em todo o caso vida ou morte, um tanto louco viver livre e natural. Hoje é um dia, mais um dia, e eu vou cozinhar coelho à caçador para o almoço, vou caprichar como sempre, começarei por um bom refogado, azeite cebola alho tomate... Não sei se viver é ter uma missão uma prisão ou tempo, como somos deuses responsáveis pela desgraça alheia que recusamos reconhecer como fruto da nossa ação diremos que temos uma missão e esta passará em todo o caso por sobreviver e converter o mundo à imagem dos nossos olhos ou então não somos deuses, optamos por ser ovelhas e escolhemos o rebanho que mais se parece connosco e aqui trabalhamos pela mão convertendo o mundo à imagem dos nossos olhos orientados pelos deuses e logicamente que, diremos: eu tenho uma função no mundo, escondendo o interesse da barriga sublinhando a função desempenhada em prol da nossa comunidade. Não sei se já repararam nos passarinhos, os passarinhos são os seres mais felizes do mundo. O passarinho é feliz simplesmente porque tem tempo para ser feliz. O passarinho também tem crises mas não sabe ou não liga muito às crises porque sem elas o ar seria insípido. Os passarinhos não teem o tipo de orientação dos que vivem com a mão e o credo na boca e trazem beleza ao meu espírito através da música que deixam nos meus ouvidos. Parece loucura. Eu diria que é mais que isso. A vida pode ser cara ou muito cara se quisermos e de fato as pessoas não teem tempo, mas como é que podem ser felizes se não teem tempo. Os passarinhos não inventam, existem livres e naturais. Viver para viver. Se as pessoas que vivem com a mão e o credo na boca se interessassem por passarinhos metiam-nos em gaiolas e jamais reconheceriam que estavam a fazer-lhes mal. Já os passarinhos não fazem prisioneiros. Na floresta poucos se interessam por coisas que não são coisas, o previligiado vai dois ou três dias à praia no verão e raros são os casos que se interessam por algo além dos pés com a mão e o credo na boca. Lembro-me de alguém me dizer que todos os mortos um dia foram sobreviventes e muitos quando partiram já estavam mortos para a vida eterna. Normalmente o rastreio da barriga é o mais importante. No entanto devo dizer que o coelho que vou estufar para o almoço é importante para a minha felicidade. Mas eu tenho tempo e prazer em caprichar, não preciso de ir a correr ao restaurante ingerir coisas processadas e um dia se não morrermos antes vem o depois. Já tenho pensado no depois, no peso dos nossos pés de chumbo, mas eu devo morrer antes deste depois e não é por não gostar de viver, viver para viver, viver pelo prazer, e se assim não for depois pensarei sobre o depois do depois. Chateia-me pensar que um dia possa não ter asas para desfrutar do canto dos passarinhos.



Há sempre algo que me confunde nas flores
Ora originam o mel, ora fazem a barba com uma rapidez
E aí como viúvas são livros escritos por escrever
E não são nada disso
Será a mortalidade calculada pelo medo do orvalho na erva
As flores saem debaixo da terra
Vivem no ar ligadas à terra
A flor é sangue fogo - tile - barra de sabão
O que resta da luz
A morte que recordo
A beleza a ilusão o dia de amanhã
As flores da imperfeição são tão
Perfeitas, muito mais
Que a minha insensibilidade



Sete vidas passadas uma cicatriz inconfundível e um olhar focado flexível defensor e crítico do vazio dos laços básicos do centro da esfera, desde a justiça da cruz à moral dos pregos passando pela verdade da cera à razoabilidade das sombras de olhos em órbitas fechadas tais punhos cerrados como se a força significasse algo mais que o erro do perdido tolerante, a maçã do pecaminoso segundo a; em desacordo com o global vigente da criatura rendida à cadeia alimentar como se a condição de nascimento fosse um contrato assinado entre leões para passear no inferno produzindo raízes, víboras eriçadas diante a sepultura aberta. Nós só temos perdão porque vivemos num mundo de deuses e deusas inexistentes.



Quando há luz à noite o lobo moribundo quer a lua e deseja-a tanto que pensa ser capaz de voar para a ter e ficar com ela. Dias depois de ler o seu caderno percebi que se continha não só porque estava frio da tarde e não se via como o forcado na arena cujo touro queria desflorar mas porque aquela rosa branca e vermelha; Li naquele caderno que não há outra igual. Peguei no coração e guardei-o. Quando há luz à noite nenhum lobo agride para a paz.



Procurava sem parar, sem conhecer, sem saber exatamente o que procurava, cheguei a pensar que era o que me faltava, sentia que algo se escondia, que me aborrecia, e sofria porque me sentia perdido, por vezes desorientado, e a natureza é tão grande que sequer questionava e equacionava a hipótese de não estar perdido, e procurava percorrendo o caminho, e além de alguma festa que me avivava nada me encorajava verdadeiramente, sentia uma certa adrenalina nas curvas, antes e depois pelo que procurava mas nada contínuo e duradouro. A certa altura perdia o fulgor. Depois de tantos quilómetros, de luzes e luzes pelo que procurava e chamava à noite escurecia e a névoa nos dias de céu encoberto tornava mais difícil procurar, aclarar e saber o que procurava, sabia que não me importavam vaidades e cheguei a pensar que o amor era ilusório, tal como uma pomada de placebo para o alivio das dores, ou outra droga qualquer cujo efeito se baseia num princípio ativo mentiroso provocando a médio longo prazo o esvaziamento da alma, até que parei sem conseguir respirar, o oxigénio parecia transformado e eu respirava água, sentia um vazio, era como se estivesse embalado em vácuo, sufocava, o medo apoderou-se de mim a escuridão aumentou a minha imobilidade e parado pensei, nas felicidades passadas, que vieram foram e ficaram, nos choques, nos azares, nos que se encontram por casualidade e nos que nos apanham por não pensarmos, por tanta coisa, cheguei mesmo a pensar que tinha encontrado o amor sem saber que tinha encontrado o amor, pensei voltar para trás, não podia, já tinha andado tanto e lá fiquei a recuperar a alma e naquele momento não liguei ao medo, queria somente respirar e vi o amor, pouco depois encontrava o amor. É uma parvoíce morar sozinho como o homem que morreu tal como sonhar uma rosa sem espinhos, e contudo, o relevante é andar.



Andei o dia inteiro à procura da colher e lá acabei por a encontrar toda suja atrás do móvel, lavei-a com a esponja poupa unhas detergente anti-gordura e pus-la a escorrer no escorredor da loiça antes de a limpar e mete-la na boca, meti-lhe a boca muitas vezes, toda deitada em pé, e enquanto o fazia ela deixava-me na boca, não somente o alimento físico mas o espiritual cujo aroma sublinho ainda derretido do palato, do perfume e nuances da manhã no céu da boca do fogo na língua da paixão quente quente ao tempero das areias de flor de sal puro, tão puro. A concha da minha colher é de um redondo ovalado e a sua cor escarlate deixa-me na lua, recheada de uma riqueza, orgânica e recompensadora para minha felicidade, e por outro dia, eu preciso da sua pele.



Somos reis e rainhas no deserto povoado de camelos e para compreender o camelo teremos de fazer como a comunidade dos ratos, enterramos a cabeça como a avestruz na areia, assim como a sociedade se fica exclusivamente na cadeia alimentar e estabelece por consequência uma relação virtuosa com a negação até porque a natureza além dos nossos pés não é para o sentido do termo realidade chamada. O cão é um relógio e como se não bastasse o sentido estéril dos ponteiros nega a verdade com a marcha na direção do lugar à roda sem sair do sítio e mais adiante a fonte seca do coração sem corda que jamais foi aberto no lugar certo para dar água como o céu em constante racionalização. Vide para vossa perversa imaginitude o arco íris, enfim, e com o passar dos anos a realização acontece com a aprendizagem aquém da pena da avestruz, de outra forma os corredores contra o tempo seriam os últimos a saber que a morte não é uma diferença, uma figura opcional. Está uma noite bonita de sirenes e estrelas e eu estou só à tua espera. Tu fias amor



Esqueci-me do beijinho beijinho. Não foi bem esquecer, é não saber viver como o pinguim, o girassol moribundo pensa não beijes não infectes, o cão moribundo não pensa lambe e ferra, ambos estão errados porque a vida é mais que o negócio da sobrevivência dos caracóis, mas ilogicamente, os afetos são coisas da humanidade, e para que é que a humanidade precisa de afetos neste mundo de coisas promessas e fantasmas. Conduz-se o ferrari para as janelas verem o que se quer mostrar e jamais se mostra a desgraçada passarinha esfomeada pela língua de Camões pela boca de Bocage pela dentada subtil de Pessoa cujo mundo dos afetos nunca chegou verdadeiramente a conhecer, e este era moderno, não bebia não fumava comia. Pouco. Seria o hábito do gafanhoto como o pensamento do isqueiro acender o cigarro pelos comboios da deusa de verão pousando o corpo perfeito sem óculos numa pose aprendida da fome mal e bem comportada que deu à luz o projector a33 avariado. Pois a vida é um quadro para a sala e resignado à parede e um elétrico idealizador num contexto canino sem ouvir a coruja arrastar os pés do cão numa obsessão centrifugadora ladrando ladrando comendo e dormindo. Seremos demasiado grandes para escutar o abismo que nos recolhe no fim sobre o qual ninguém quer ouvir falar. Já lavei os copos os pratos os tachos, estava à tua espera para comer




Atravessavas-me como a cadela examinando o cadáver vacilante
Eu despontava no vento duma unidade nova e já abandonada
Tu querias um barco que te levasse ao verão azul das cadeiras velhas
Naquele dia de smoking era como a noite quente congelada das neves
Depois senti vergonha de termos rumado ao cemitério e incinerado os nossos versos
Porque cria ter sido possível beber café bem feito
O fiambre na geladeira continua a não ser o meu prato
Aborreço-me de lugares vazios onde a erva cresce a monte pelo fósforo acesso dos nossos olhos
Tu não gostavas de mel e eu
Que querias
Eu também sou do prado onde a brancura cresce
Escuta, virá outro dia e havemos ainda de provar
Marreco
Assado nas dunas de São Jacinto